Trabalho de artesão
2 MAIO 2019
Por vezes é preciso um afastamento para percebermos aquilo que queremos fazer (e até aquilo que queremos ser). Este projeto, que se iniciou a quatro mãos e continua agora a duas, por vezes exige-me que dê vários passos atrás (e alguns ao lado) para compreender o essencial. E o essencial é aquilo que resume a Mariamélia: a manufatura, o local e a pequena escala.
Não acredito que tudo é bom apenas porque é português e artesanal, acredito que os produtos são bons porque as pessoas que os fazem são os melhores naquilo que fazem, sejam escovas artesanais, gamelas de madeira, cestas de vime ou candeeiros esmaltados.
Aquilo que é feito em Portugal não é obrigatoriamente bom. Se é feito artesanalmente não é necessariamente melhor, mais durável ou até mais sustentável. Mas pode ser. Com a Mariamélia quis escolher o melhor desses mundos, imaginando a casa que sonhamos habitar e os objetos que queremos usar por muito tempo.
Quero mostrar as melhores matérias-primas, os objetos de uso tradicional, e o potencial dos artesãos e das pequenas indústrias. Porque acredito que ainda está tanto por fazer. Porque o “artesão” ainda é visto como uma profissão desacreditada e sem carisma. Porque um produto manufaturado ainda é comparado diretamente a um feito industrialmente. Porque o artesanato não se define por ser “urbano” ou rural. Se vivemos uma era em que esta categorias estão praticamente obsoletas — urbano/rural, artesanal/industrial, artista/artesão — é porque, além de palavras novas, precisamos de discutir sobre o que se produz e, principalmente, como se produz hoje em dia.
Sem refletir seriamente sobre as condições de produção não podemos ser sérios quando falamos em sustentabilidade. Sem pensar na dignidade do trabalho de manufatura e num trabalho pago justamente, não podemos falar em ética. Para que estas palavras não sejam só chavões para vender mais coisas é necessário refletir nos atos aquilo que defendemos. Acredito que só com a produção em pequena escala e um contacto próximo com artesãos e pequenas indústrias (onde há tantos processos artesanais) será possível revalorizar a manufatura e os produtos dessa manufatura. “Isto é manufacturação, trabalho de artesão” cantava o B Fachada numa canção sobre fazer música. Fazer objetos, música, pão, são processos mais ou menos intelectuais mas que exigem um conhecimento técnico, uma experimentação física, e uma curiosidade que nos move pelo fazer melhor, e que nos humaniza, sensibilizando-nos para com aquilo que nos rodeia.
MANUFATURA FILOSOFIA
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Não acredito que tudo é bom apenas porque é português e artesanal, acredito que os produtos são bons porque as pessoas que os fazem são os melhores naquilo que fazem, sejam escovas artesanais, gamelas de madeira, cestas de vime ou candeeiros esmaltados.
Aquilo que é feito em Portugal não é obrigatoriamente bom. Se é feito artesanalmente não é necessariamente melhor, mais durável ou até mais sustentável. Mas pode ser. Com a Mariamélia quis escolher o melhor desses mundos, imaginando a casa que sonhamos habitar e os objetos que queremos usar por muito tempo.
Quero mostrar as melhores matérias-primas, os objetos de uso tradicional, e o potencial dos artesãos e das pequenas indústrias. Porque acredito que ainda está tanto por fazer. Porque o “artesão” ainda é visto como uma profissão desacreditada e sem carisma. Porque um produto manufaturado ainda é comparado diretamente a um feito industrialmente. Porque o artesanato não se define por ser “urbano” ou rural. Se vivemos uma era em que esta categorias estão praticamente obsoletas — urbano/rural, artesanal/industrial, artista/artesão — é porque, além de palavras novas, precisamos de discutir sobre o que se produz e, principalmente, como se produz hoje em dia.
Sem refletir seriamente sobre as condições de produção não podemos ser sérios quando falamos em sustentabilidade. Sem pensar na dignidade do trabalho de manufatura e num trabalho pago justamente, não podemos falar em ética. Para que estas palavras não sejam só chavões para vender mais coisas é necessário refletir nos atos aquilo que defendemos. Acredito que só com a produção em pequena escala e um contacto próximo com artesãos e pequenas indústrias (onde há tantos processos artesanais) será possível revalorizar a manufatura e os produtos dessa manufatura. “Isto é manufacturação, trabalho de artesão” cantava o B Fachada numa canção sobre fazer música. Fazer objetos, música, pão, são processos mais ou menos intelectuais mas que exigem um conhecimento técnico, uma experimentação física, e uma curiosidade que nos move pelo fazer melhor, e que nos humaniza, sensibilizando-nos para com aquilo que nos rodeia.
MANUFATURA FILOSOFIA
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